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O enigma do copywriting: perdidos entre a segunda e terceira pessoa

Atualizado: 28 de out. de 2024



O português é aquela língua que não desejaria ao meu pior inimigo aprender na velhice. No mundo do copywritting, onde as regras gramaticais encontram-se muitas vezes tão distorcidas quanto uma estrada mal pavimentada... eis que nos deparamos com comunicações em que "o Tu se torna Você" num piscar de olhos! #quemnunca?


Este é um dos problemas que despontam na comunicação escrita de algumas marcas - especialmente em Angola, mas infelizmente em todo o lusófono - é a perplexidade entre o uso da segunda e terceira pessoa. Este, vamos chamá-lo de fenómeno, não só desafia as normas do nosso querido idioma, mas também levanta uma questão: porque algumas marcas parecem incapazes de decidir como se dirigir ao seu público?


(Eu tenho a certeza que Camões viria à nado com Diogo Cão, se fossem da mesma época, e Saramago não se atrevia a escrever sem vírgulas no tempo das redes sociais... isso eu aposto).



A subtileza da voz: A importância de escolher uma pessoa gramatical


Antes de tudo, não quero ser aqui professora de português, ok?! Mas é importante que entendamos de uma vez por todas a diferença entre a segunda e a terceira pessoa no discurso de uma marca.


Quando uma marca convida-nos a "visitar a nossa loja e descobrir as ofertas incríveis que preparamos para si" - ela está a dirigir-se directamente a nós, mas com respeito, tratando-nos com familiaridade da segunda pessoa, apesar do "si". É quase como se estivéssemos num convívio "informal" a falar com o nosso tio mais velho.

Diferente de "visita a nossa loja e descobre as ofertas incríveis que preparamos para ti" - ela está a dirigir-se a nós, mas como indivíduo, único e singular... um tom que mais do que familiar é um tom próximo!


Por outro lado, a teceira pessoa introduz um distanciamento respeitoso: "Os clientes devem visitar a loja para descobrir as promoções". Aqui, sentimo-nos mais como observadores no grandioso teatro do consumo, sem a calorosa inclusão directa.


Ambas têm o seu lugar; o problema surge quando as marcas baralham as duas e criam uma comunicaão que se assemelha a uma conversa com um amigo que sofre de múltipla personalidade.


A confusão do copywritting: A voz perplexa das marcas


Por que, então, as marcas em Angola caem na armadilha de trocar indistintamente entre a segunda e a terceira pessoa? Será uma questão de desconhecimento do idioma ou, num toque de ironia, será que estão a explorar uma nova forma gramatical?


Sarcasmos à parte, o problema, na verdade, provém de uma falta de estratégia coerente e bem definida na comunicação. Sem um guia claro sobre quem é o público-alvo e qual o tom apropriado, as marcas acabam por lançar mão de abordagens díspares, por vezes numa única frase... (Quando vejo isso, tenho vontade de cortar os meus pulsos.) Esta indecisão não só mina a eficácia da mensagem, como também pode confundir e afastar o público - afinal, ninguém gosta de ambiguidade, a menos que estejamos a falar de arte contemporânea.



Os efeitos na percepção da marca


Esta confusão gramatical tem consequências reais na percepção da marca. Um estilo de comunicação inconsistente e "com erros gramaticais" pode transmitir amadorismo e falta de cuidado, dando a impressão de que a marca tem - com o perdão do trocadilho - um "problema de identidade". Este tipo de dissonância pode distrair o público, que, confuso sobre a mensagem, pode facilmente virar-se para uma concorrência que seja capaz de manter um diálogo claro e consistente.



Soluções para uma comunicação coerente


Então, como podem as marcas não cair nesta "cilada do tu e vós"? A resposta reside em algo aparentemente simples mas frequentemente negligenciado: A definição e manutenção de uma voz e tom claros.


As marcas devem investir na criação de guias de estilo e tonificação que explicitamente definem qual pessoa gramatical utilizar e em que contexto. Com isso, não transformam apenas a linguagem na sua comunicação, mas estabelecem uma conexão mais genuína com o público.



 

Respeito pelas palavras


O uso inconsistente da segunda e terceira pessoa no copywritting em português é um convite ao caos comunicacional. Esta prática, seja pela falta de atenção ou desconhecimento, sub-estima o poder da palavra escrita e o seu papel de moldar a percepção de uma marca.


Portanto, meus caros, pensem na gramática não como uma mera formalidade, mas como uma ferramenta que pode fazer ou cortar a ligação com o público. Afinal, entre falar "para si" ou "sobre eles", é sempre bom saber, com certeza, quem realmente queremos alcançar







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