Branding vs Marketing em Angola: Entre o brilho e o banal
- Mónica Almeida
- 3 de set. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de out. de 2024

O mundo do branding e marketing em Angola é um universo tão cheio de potencial quanto de clichês, onde a linha entre inovação e imitação é tão fina quanto o fio de cabelo de um careca.
Em que outro universo poderíamos testemunhar a ascensão meteórica de líderes femininas em Angola, enquanto também lamentamos a banalização de liderança: seja ela feminina ou masculina... que diferença faz, especialmente nesta profissão? Apenas neste, meus senhores, minhas senhoras e mes senh... (não sei como me dirigir aos géneros não específicos), onde o ordinário se encontra com a idealização e, ocasionalmente, com o Gibelé no Campeonato Africano de Futebol.
Mergulhemos nesse fascinante mundo, onde as mulheres lideram, as agências (algumas) repetem e as marcas... bem, as marcas fazem o que podem.
O casamento (in)feliz entre marca pessoal e empresarial
Comecemos por essa moda de alinhar a promoção pessoal à empresarial. É como se cada CEO acordasse de manha a pensar: "Como posso ser o próximo Elon Musk angolano hoje?" Spoiler alert: provavelmente não pode, e está tudo bem.
A razão é simples e inegável. Num mercado que imita padrões e segue tendências à velocidade da internet em Luanda (o que pode ser algo variável), destacar-se significa entrelaçar intencionalmente a personalidade inconfundível de uma empresa com as almas talentosas que conduzem. mais do que um logótipo ou um slogan, são as histórias pessoas que aquecem o coração do consumidor. (prometo que vos conto bem a minha história).
Mas tenho que ser justa, há uma razão para isso. Segundo um estudo da Deloitte em 2022, 82% dos consumidores são mais propensos a confiar num empresa cujo o CEO tem presença activa nas redes sociais. Então, talvez esse casamento não seja tão infeliz assim. Só não exagere no Instagram, Sr. Director. Ninguém precisa de ver as suas ftos na praia de Mussulo todos os fins-de-semana.
A banalização do marketing: Quando todos são especialistas
Agora, num estranhamente autêntico paradoxo, assistimos ao crescente protagonismo de especialistas em tudo... inclusive em marketing. Isto é, de facto, surpreendente apenas para aqueles que não estão atentos à dinâmica social em mudança.
Com programas motivacionais como o "Empowerment, Leadership & Access" que promove o empoderamento feminino em papeis de liderança, nós mulheres, tornamo-nos símbolos de resiliência e inovação - ingredientes essenciais para um branding realmente eficaz. Eva Rosa Santos, por exemplo, tem liderado iniciativas para valorizar a liderança feminina em Angola - adoro a iniciativa, adoro a resiliência, adoro a forma como esta mulher se posiciona. Podia ser um homem né? Não! É só uma questão de género.
Voltando à banalização...
Já que, basta ter uma conta no TikTok e saber o que um "engagement rate" para se autoproclamar guru do marketing. É como se o diploma universitário tivesse virado papel de embrulho para o mufete.
Mas calma lá! Segundo dados do Ministério do Ensino Superior de Angola, em 2023, houve um aumento de 15% nas matrículas em cursos de marketing e comunicação. Parece que alguns ainda acreditam que estudar pode ser útil. Quem diria?
"Angolano tem muito jeito" : angolano tê mútu jêto!
E aí chega o Gibelé, mas com menos fanfarra e mais perplexidade. Enquanto muitos esperam que se levante uma nova bandeira do futebol moderno em África, o que nos deixou a todos quase hipnotizados foi a sua capacidade de aprimorar o que já sabemos: que em Angola a originalidade poder algo raro, não obstante sermos uma mina de inspiração cultural. Gostaria de ter perguntado ao Gibelé se a escolha da marca JBL foi propositada, uma vez que, lido em linguagem corrente e português de angola faz um bonito trocadilho do seu nome.
A falta de imaginação e originalidade não é propriamente uma lacuna de criatividade mas sim o resultado de um conforto em seguir o "mais do mesmo". As agências parecem tropeçar nesta tendência, preferindo copiar do que inovar (deixem-me fazer aqui um parênteses, porque nem sempre o problema são das agências, mas dos clientes, afinal o cliente keru, cliente manda). Afinal, como em qualquer outra noite de brigo empresarial, saber quando parar é fundamental mas, para muitos, imitar o vizinho ao lado parece ser mais fácil.
E tanto quanto há muita falta de originalidade, há muitos criativos por aí, a suspirarem por oportunidades de "criar" o que consideram original e não o que lhes é pedido (maldito briefing, que passou a ser um tutorial passo-a-passo).
A falta de originalidade num país que grita por inovação
Angola é um país que respira cultura, tradição e inovação. Então, porque diabos as nossas campanhas de marketing parecem ter sido criadas por um robô sem imaginação?
A Nestlé entendeu isso quando transformou, lá trás a sequência do projecto "Wyowbu" (~ entre 2012 e 2014) que pretendia, entre outros aspectos, fomentar o empreendedorismo, quando jovens em zonas semi-urbanas da cidade vendiam café nas ruas e em (~2016) a Nestlé muniu-os de Kits de pacotes, coletes, copos descartáveis, etc.).
Hoje, em pleno 2024A jogada de mestre da Nestlé Angola, e os seus maravilhosos patinadores com cafés a percorrer as ruas de Luanda... uma óptima oportunidade de empregar os "magueladores" que alegremente passeiam nas trazeiras dos carros. Até podemos chamar de uma alternativa culta para os patinadores, mas que é original... lá isso é.
É para mim, um aceno à cultura local e ainda assim uma memória daqueles tempos em que qualquer coisa nova era suficiente para chamar a atenção do mercado. Segundo algumas fontes (não sei se são credíveis) esta brilhante ideia aumentou as vendas de café instantâneo em 30% em apenas três meses.
Mas, por alguma razão misteriosa, a maioria das marcas prefere seguir o caminho seguro e entendiante. É como se o medo de arriscar fosse maior que o desejo de se destacar.
Um chamado à originalidade
Neste turbulento oceano de branding e marketing, onde lideranças feminizadas ascendem, futebolistas são verdadeiros heróis ainda incertos, ocupa, a passarelle e street teams mantêm-se colados aos retrovisortes, a Nestlé e similares demonstram que a originalidade nunca sai de moda - se tivermos a coragem para buscá-la... e claro, uma liderança que tolera o original.
O marketing em Angola é como um adolescente: cheio de potencial, mas ainda sem saber exactamente o que quer ser quando crescer. Temos líderes femininas inspiradoras, um mercado vibrante e consumidores ávidos por novidades. O que nos falta é coragem de ser verdadeiramente originais.
É hora de acordar, tomar um gole daquele café servido por patinadores - ou para os mais exigentes Nespresso (Nestlé) e os "gourmets" Kopi Luwak - e começar a pensar fora da caixa. Ou melhor, fora das fronteiras... porque francamente, o mafrketing angolano merece mais do que ser apenas mais um na multidão continental ( e olha que, na minha opinião o marketing em Angola está na lista dos top 10 do continente... para mim)
Vamos lá parceir@s... mostrem ao mundo que o nosso marketing é realmente capazE, por favor, sem mais camisas amarelas em estádios. Já temos o Brasil para isso,
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